Imóvel, o ar fugia-lhe dos pulmões
de forma brusca. Não conseguia impedir o nervoso miúdo, desde que entrara
naquele edifício infernal, de crescer exponencial e incontroladamente. Os músculos
já não lhe obedeciam de tal modo que, tremores sucessivos e suores frios lhe
percorriam todo o corpo. “O… Relógio… O relógio.” Eram as únicas palavras que
conseguia expulsar por entre os dentes cerrados.
Não havia relógio ao fundo do
corredor, aliás, não havia paredes em volta do corredor, apenas restavam gastos
mosaicos de madeira que cobriam o chão, e portas que chiavam com a brisa fria que
vagueava. Vegetações revestiam a velha casa, ou a réstia do que tinha ficado
dela. Mas, o barulho ensurdecedor do cuco não parava, apenas aumentava, até não
conseguir deter um grito de horror que se soltou da garganta.
Acordou. O coração palpitava de
tal forma que estava certo que queria escapar-lhe do peito e, tão rápido como o
desespero o tinha invadido há momentos atrás, igualmente lhe desocupou da mente qualquer
vestígio do que havia ou não sonhado.
Por instantes não se recordava onde
estava, como tinha lá parado e com quem, contudo, rápido, um perfume de jasmins
tão forte que lhe dava dores de cabeça invadiu os seus sentidos. Inconscientemente,
esticou o braço para além da sua almofada e sentiu-lhe o calor. Não sabia com quem tinha passado
a noite, pouco lhe importava, não era homem de se apegar a uma só mulher, não
iria cometer esse erro novamente. Nunca seria tão cego como fora com Eve! Mas,
não queria pensar nela, só o facto de deixar a mente divagar o seu nome trazia-lhe
um gosto amargo à boca.
Levantou-se, vestiu-se e fechou a
porta ao sair do apartamento. Não se despediu. Entrou no elevador e encostou-se
de forma despreocupada, voltou a pensar em Eve.
“Foda-se!” E logo um gosto amargoso
se apoderou da sua boca.