sábado, 8 de fevereiro de 2014

Capítulo II - A Decisão

Sentia-se um corpo inerte à deriva no infinito, sujeito às partidas cruéis do destino. Não que acreditasse no “destino”, julgava o próprio conceito da palavra ridículo, como Homem que era gostava de ter o poder nas suas mãos, ou pelo menos pensar que assim o era. No entanto, naquele momento sentia a força do seu fado ligado, por sangue, ao filho da puta do velho…. Uma piada cruel.

A carta de nada lhe tinha servido de consolação, muito pelo contrário, tinha o deixado num estado impróprio seu. Ao fim, do que lhe pareceu, cinco minutos, bateram-lhe à porta do quarto. Acordou.

Laivos de sol roubavam a escuridão. A carta do velho? Estava intacta, mas não escondida, no monte onde a tinha deixado. Tudo tinha sido um sonho, ou pesadelo. Já nem se lembrava do que tinha lido na carta mas não interessava, qualquer palavra lida seria apenas a manifestação do seu, tão criativo, inconsciente. Levou as mãos à cabeça, esperando encontrar alguma lucidez, na porcaria de confusão que a sua vida se tinha tornado. Fez as malas rapidamente, determinado a por um fim à tortura que a casa lhe causava e terminar, por fim, com esse capítulo da sua vida, vestiu-se e fez check-out do hotel. Tirou um cigarro do bolso e acendeu-o, compulsivamente, à medida que marcava o número da prima no telemóvel, que atendeu prontamente.

“Preciso que me dê boleia.”

“Não tens dinheiro para um táxi agora, queres ver?” A prima respondeu-lhe com ironia.

“Não pode dar boleia ao seu primo?”

“Boleia para onde? Não me digas…!”

“Sim, boleia para casa. A casa.” Repostou impacientemente. “Estou à espera em frente ao Plaza. Pode passar aqui daqui a cinco minutos?”

“Mas… Tu queres boleia, agora?! Neste preciso momento?!” Perguntou perplexa.

“Claro!”

“Há pessoas que trabalham, caro primo!!” – Replicou violentamente.

“6 minutos?” Gracejou.

“Amanhã!”

“Tem de ser hoje!”

“Porquê? Vais-te acobardar?” Riu-se, o que o deixou a ferver de irritação.

“Um simples não basta! Eu arranjo-me, não se preocupe.” Preparou-se para desligar a chamada.

“Lucas espera! Tem calma… Estou aí em 5 minutos.” Suspirou. “Posso só perguntar, o que te levou a mudares de decisão tão rapidamente?”

“Só quero ver-me livre deste assunto o mais rápido possível, nada mais.”

“Sim, claro!” Voltou a ser irónica. “ Como se os teus secretários ou assistentes ou lá o que seja, não pudessem tratar do assunto?!”

“Nunca ouviu dizer?”

“O quê?”

“Se queres uma coisa bem feita, fá-la tu mesmo.”

“Sim, sim… não vou na tua treta.”

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