A verdade é que, por muito que
proibisse a entrada de Eve no seu pensamento, ela acabava sempre por quebrar a regra.
Ela quebrava todas as regras. Como era possível ainda exercer um tão forte
efeito sobre ele?
Tirou um cigarro do bolso direito
do casaco e, mal saiu do prédio acendeu-o, tentado apagar o sabor que o nome
dela lhe tinha provocado. Parou, brevemente, na entrada do prédio enquanto levava
o cigarro à boca, infundindo o fumo até que lhe dissolvesse os pensamentos.
“Ainda te quero demais…” E
deixou-se pensar nela. Mergulhou nas funduras daquela mulher impetuosa que o
fez perder tantas vezes a razão, o amor por si próprio e toda a lógica. Deixou-se
pensar em percorrer-lhe o corpo, como havia feito há tanto tempo por tantas
vezes; em sentir o olhar, tão profundo que lhe lia a alma, pairar sobre si; em
ouvir-lhe o riso alto e possante. Eve, era uma mulher como tantas outras, não
era uma beleza estonteante com olhos azuis, cabelo loiro e pernas longas! Não,
era baixa e algo curvosa. Mas, não havia quem lhe igualasse olhar… Como o
cativava! Fazia-o perder a cabeça e todos os princípios que pensava ter.
Ansiava por ela… Por ouvir a sua voz, por sentir o seu toque, por ama-la e tê-la
de novo nos seus braços!
Expirou prolongadamente o fumo e levou
o cigarro à boca mais uma vez. Não fumava até a conhecer, foi como que seduzido
a começar por ela. Adorava vê-la fumar, dava-lhe um ar de quem era dona de si. Chegava
a ficar horas a vê-la consumir cigarro após cigarro.
Nunca pensou que ela o pudesse
trair, muito menos de uma forma tão profunda, preferia até que ela fizesse sexo
outro homem! Porque tinha ela falado com o seu pai? Porque tinha ela a
necessidade de resolver assuntos para além da sua compreensão? Porquê?
Jamais amaria alguém da maneira
que a tinha amado, mas não possuía qualquer desejo de deixar tal acontecer.
Amou-a, amava-a ainda, talvez sempre a fosse amar, mas nunca estaria com ela.
Deixou o fumo do cigarro
escapar-lhe dos pulmões violenta e sucintamente, e com ele proibiu de novo a
presença dela na sua mente. Fez sinal a um táxi que se aproximava do fundo da
rua e entrou.
“Para o Plaza.”
“Sim senhor.”
Olhou na direcção da janela e
abstraiu-se do condutor que tentava, avidamente, fazer conversa. Não acenou,
não anuiu, não olhou para ele sequer. Certamente o homem o achou arrogante de
primeira, mas não lhe interessava que juízo os outros faziam dele, tinha mais
com que se preocupar. Lembrou-se, de repente, daquilo que a mente havia
esquecido naquela manhã: O sonho…
“Maldita casa!!” murmurou. O
taxista, agora calado, ignorou-o.
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