segunda-feira, 1 de julho de 2013

Capítulo I - A mulher

A verdade é que, por muito que proibisse a entrada de Eve no seu pensamento, ela acabava sempre por quebrar a regra. Ela quebrava todas as regras. Como era possível ainda exercer um tão forte efeito sobre ele?

Tirou um cigarro do bolso direito do casaco e, mal saiu do prédio acendeu-o, tentado apagar o sabor que o nome dela lhe tinha provocado. Parou, brevemente, na entrada do prédio enquanto levava o cigarro à boca, infundindo o fumo até que lhe dissolvesse os pensamentos.

“Ainda te quero demais…” E deixou-se pensar nela. Mergulhou nas funduras daquela mulher impetuosa que o fez perder tantas vezes a razão, o amor por si próprio e toda a lógica. Deixou-se pensar em percorrer-lhe o corpo, como havia feito há tanto tempo por tantas vezes; em sentir o olhar, tão profundo que lhe lia a alma, pairar sobre si; em ouvir-lhe o riso alto e possante. Eve, era uma mulher como tantas outras, não era uma beleza estonteante com olhos azuis, cabelo loiro e pernas longas! Não, era baixa e algo curvosa. Mas, não havia quem lhe igualasse olhar… Como o cativava! Fazia-o perder a cabeça e todos os princípios que pensava ter. Ansiava por ela… Por ouvir a sua voz, por sentir o seu toque, por ama-la e tê-la de novo nos seus braços!

Expirou prolongadamente o fumo e levou o cigarro à boca mais uma vez. Não fumava até a conhecer, foi como que seduzido a começar por ela. Adorava vê-la fumar, dava-lhe um ar de quem era dona de si. Chegava a ficar horas a vê-la consumir cigarro após cigarro.

Nunca pensou que ela o pudesse trair, muito menos de uma forma tão profunda, preferia até que ela fizesse sexo outro homem! Porque tinha ela falado com o seu pai? Porque tinha ela a necessidade de resolver assuntos para além da sua compreensão? Porquê?

Jamais amaria alguém da maneira que a tinha amado, mas não possuía qualquer desejo de deixar tal acontecer. Amou-a, amava-a ainda, talvez sempre a fosse amar, mas nunca estaria com ela.
Deixou o fumo do cigarro escapar-lhe dos pulmões violenta e sucintamente, e com ele proibiu de novo a presença dela na sua mente. Fez sinal a um táxi que se aproximava do fundo da rua e entrou.

“Para o Plaza.”

“Sim senhor.”

Olhou na direcção da janela e abstraiu-se do condutor que tentava, avidamente, fazer conversa. Não acenou, não anuiu, não olhou para ele sequer. Certamente o homem o achou arrogante de primeira, mas não lhe interessava que juízo os outros faziam dele, tinha mais com que se preocupar. Lembrou-se, de repente, daquilo que a mente havia esquecido naquela manhã: O sonho…

“Maldita casa!!” murmurou. O taxista, agora calado, ignorou-o.

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